Resenha de Zíngara_ Histórias do povo Cigano de Carla Póvoa

Livro: Zingara_ histórias do Povo Cigano

Autora: Carla Póvoa

Editora: Alfa do cruzeiro - editora para autores independentes.

      A narrativa de Zíngara- Histórias do Povo Cigano começa no ano de 1841, na Espanha. Essa é o segundo livro da trilogia, iniciada com Pablo – O cigano de Ouro. A resenha do primeiro livro também está no Café Literatura e você pode conferir aqui.

       https://cafe-literatura8.webnode.com/news/pablo-o-cigano-de-outo-de-carla-povoa/

        Ainda que seja uma obra de ficcção, Carla Póvoa teve o cuidado em trazer para o leitor a condição politico-social daquele país no período.

 

    “A capital estava escura. A iluminação das ruas fora apagada, em razão das situações de sítio necessárias e constantes durante os conflitos da guerra, que se achava em pleno vapor na Espanha. Além do mais, a energia elétrica sempre se mostrava inconstante, apesar de ser a capital. Apesar de o lugar ser bem iluminado quando havia luz das tochas, não resolvia. Aquele canto do bairro era negro, mesmo diante dos postes que ali existiam. A escuridão ali vinha de outras esferas. Lá havia uma série de boates clandestinas e casas de prostituição. Em uma delas, Marta estava trabalhando, um tanto contrariada, porque já havia dito que não queria mais viver daquele jeito e, naquela mesma noite, avisara que não mais faria parte do contingente de trabalhadoras.”

 

       Em Zíngara, inicialmente conhecemos Marta, que está fugindo de um bordel da época, onde fora aliciada a trabalhar como escrava sexual, vendendo o corpo em troca de moradia e alimentação com valores absurdos- dívidas nunca quitadas.

     Em determinada noite, justamente um de seus irmãos é o cliente da casa. Ele a vê e a situação constrangedora só não é pior do que a constatação que o emprego que ela arrumara como doméstica para ajudar a mãe e os irmãos -como alegara ter encontrado, ao sair de casa- nunca se concretizara, de fato.

       Ele sai desarvorado do bordel e Marta aproveita a porta aberta nos fundos do estabelecimento e foge.

       Marta é encontrada pelo chefe Ygor, chefe dos ciganos.

“ (...) - Nós a trouxemos para cá e lhe demos os primeiros socorros. Só que tínhamos que levantar acampamento naquele dia, porque combinamos isso com o governador que nos cedera a área para ficarmos. No entanto, esperamos ainda por um dia e você não acordava. Ygor parou um pouco para que ela assimilasse, depois continuou.

— Íamos deixá-la aos cuidados de um hospital para podermos prosseguir. Mas Diana, nossa maga e conselheira, nos disse que as cartas não recomendavam que a deixássemos, pois você corria perigo. Lembrar-se-ia do que se trata?

      Novamente ela balançou a cabeça.” .

   Aos poucos, Marta sente-se tão bem entre os ciganos que, apesar de ser uma gadji, é aceita entre eles. Existe algo em Marta que os faz acreditar que ela é uma alma cigana nascida num lugar errado. E, aos poucos, Yasmim e Savana ensinam os costumes a ela. 

   Silvana é uma das ciganas que não gosta da “estranha” e a rejeita, e mesmo Ygor tem alguma desconfiança – normal, pois precisa liderar o povo e cuidar para que nada de mal possa acontecer. Ainda assim, o chefe a recebe no clã.

 

      Agora, o narrador nos apresenta Marivone- filha mimada do governador da comarca de Saint Marie. Marivone relacionava-se intimamente com Ivan- marido de um dos mais importantes magistrados do país.

         A curandeira dava uma erva para marivone não engravidar, mas alertara de que deveria interromper a tomada da erva por um periodo, para que a mesma surtisse o efeito desejado. Mas, voluntariosa que só, Marivone fazia o que tinha vontade. E descobriu-se grávida, por fim. Então, junto com a escrava Neta, ela vai para a casa de campo onde passa todo o periodo de gestação dando à luz a um menino. Sequer tem desejo de olhar para a criança e pede para a parteira  abandonar a criança à propria sorte. Apiedada do recém-nascido,a  mulher coloca a criança ao pé de um arbusto. Célia é o nome da parteira, que lá colocara a criança de caso pensado:

 

    “(...) Jean era o jovem deitado sob a árvore. Dormia profundamente fazendo a sesta. Gostava de se afastar um pouco, pois falava que sua melhor forma de agradecer pelo alimento era aproveitá-lo ao máximo em um sono relaxante e satisfatório. Ygor respeitava a forma como cada um fazia seu agradecimento, apesar de sempre rir das escapadelas do jovem dorminhoco. Com o passar dos minutos, ele se sentiu incomodado com um chorinho que não sabia de onde vinha. O chão duro começou a incomodar o corpinho do bebê”.  

       Yasmim é a primeira a tomar a criança nos braços e a desembrulha de suas mantas, bem arrumadas pela parteira, que assim procurara protegê-la do frio.

        Então Savana disse qua agora era aquela criança o filho que Yasmim tanto aguardara e o menino recebe o nome de Serguei conforme escolha do Chefe Ygor, dando à criança o mesmo nome do  pai dele.

      É bem interessante como a narrativa se desenvolve através de cenas alternadas em que os personagens são apresentados aos poucos, de tal maneira que conhecemos suas motivações e personalidades.

       Além disso, os costumes ciganos são transmitidos ao leitor com sutileza, abordando o tema, a linguagem e até mesmo ensinando a cultura cigana com naturalidade, através de pequenas frases, formas de expressão e traços do caráter.

        A dança e a sensualidade do grupo cigano que se apresenta para o governador para alegrar o povo em periodo conturbado da Espanha é uma estratégia politica interessante. E, ainda que sem entrar em questões politicas, Carla Póvoa deixa claro a ambientação marcada pelo conflito na Espanha daquele tempo.

       Além disso, expõe a intriga entra a Igreja catolica e a protestante, que começava a tomar vulto. A influência da igreja na politica e até a filha da curandeira, informante do pároco. Os assuntos que se percebem nas entrelinhas compõe ainda uma segunda trama repleta de intrigas e politicagem, que acrescenta e adensa ainda mais a curiosidade do leitor.

         Carla Póvoa entrelaça  histórias, defendendo os personagens com graça. Impossivel não se identificar e torcer por eles.

        Zingara- Histórias do Povo cigano é um bailado cujos  volteios da saia cigana em seus movimentos ora ciclicos e ritmados, ora alegres e vigorosos,  revela  e nos conduz à conclusão de que a história do individuo faz parte da história coletiva e que somos , afinal, todos um só povo.

 

                                                    Michelle Louise Paranhos- critica Literária.

O livro Zingara _Histórias do Povo cigano será lançado no facebook num evento exclusivo para o Blog Café Literatura! Sábado, 16 de Setembro, às 19 horas.Em Pauta: café literatura 6 com Lançamento especial! 

Acesse o link e confirme sua participação no debate e lançamento do livro.

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