Resenha de Guerras de Cthulhu organização Mauricio R B Campos.

        Quando recebi o original das mãos do Organizador para ler e resenhar, deparei-me com algo totalmente diferente do esperado: Guerras de Chutlhu. Qual o significado do título do livro? Chuntlhu exite de fato, e se existe, porque estaria sendo então travada uma guerra?

      Fui pesquisar o significado do termo de deparei-me com essa defnição:

      “Cthulhu é um dos  principais  Mitos de Lovecraft. É frequentemente citado pelos livros de história, seu tamanho gigantesco e o terror abjeto que evoca.

      A entidade é usada também em círculos de ficção científica e fantasia como sinônimo de horror ou mal extremo".

     O  horror possui uma função psicológica, de exorcisar nossos medos e o mal que(dizem)existe em cada um  nós. Assim como no humor obtem-se a catarse através do riso, provocando a reflexão,o horror também provoca efeito semelhante, usando para isso o medo.

      Apenas nesse momento entendi que Mauricio R B Campos teria aqui dois papéis: O de apresentador/ narrador-personagem e regente dessa Guerra travada para sobrevivermos ao malde Cthulhu.

Confira neste link as Primeiras Impressões que fiz de Guerras de Chutlhu

https://cms.cafe-literatura8.webnode.com/news/primeiras-impressoes-de-guerra-de/

 e se prepare para na resenha abaixo  vivenciar o horror dos quatro contos que compõe as 200 páginas de  Guerras de Chutlhu.

    O primeiro conto é A Nova Innsmouth de Marcelo Fernandes.  .

     Tomas Malone dirigiu-se a uma cidade desconhecida em busca de seu irmão.

“Tomas desembarcou em uma das diversas bifurcações da estrada e caminhou o que pareceu horas sem que um único veículo passasse por ele. Arrependeu-se por não ter alugado um carro. Agora, ao fim da íngreme subida, via os primeiros telhados, cujas casas iam ficando à mostra, quanto mais andava, logo se tornando visíveis ruelas e praças. Tudo muito quieto. Deserto. Não conseguiu evitar um arrepio, trazido pela forte suspeita de que havia alguma coisa errada com aquele lugar”.

          Tomas finalmente se hospeda no hotel onde seu irmão estivera pela última vez. Não era bem um hotel, na verdade, era um sobrado velho, A casa da Ana. Na verdade, o único lugar que existia naquela cidade decrépita para se hospedar. Após algumas situações inusitadas, ele finalmente consegue se mudar para o quarto em que seu irmão estivera para tentar encontrar alguma pista de seu paradeiro.

       O conto traz muitas referências ao mito de Chuntlhu assim como aos personagens de Lovecraft. Para mim, que ainda não havia livro nada deste mestre do terror- embora já tenha me deparado com elementos inspirados nele em filmes sem sequer saber ser ele a fonte de inspiração- foi um agradável ainda que assustador primeiro contato com o estilo e preciso dizer que adorei a experiência, em especial a descrição dos ambientes, que é o forte desse conto, causando muitos sustos e uma tensão crescente no decorrer das páginas. Foi uma boa escolha desse conto para abertura do livro, já preprando o leitor nos conceitos de cthunlhu.

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Segundo conto é O Primeiro Arauto Por Thiago Lee.

Na primeira parte do conto somos transprtados para uma terra muito distante num passado longínquo. A personagem principal é Kaya, que após desejar por tanto tempo ir até a mesquita, a vê ao longe. É para lá que eles se direigem para tentar salvar a vida do filho. Uzoma, o menino, está muito doente. Mas percebe-se  uma tensão entre o casal logo no inicio do conto com um ácido  diálogo entre Kayla e o marido, que insiste que o nome do filho é Mohammed. O marido vai procurar marabu que, segundo ele, é o homem mais próximo do profeta, porque se ele não pode salvar o filho deles, ninguém mais poderia.

Kayla então é surpreendida com a aparição do agente do caos e precisa fazer uma escolha para salvar a propria vida e a vida do filho. E o agente do caos mostra-lhe numa visão o que o futuro aguarda.

Na segunda parte do conto conhecemos Cyryl, prisioneiro num submarino, que ao receber uma generosa refeição, mais farta do que de costume, julga ouvir alguém dizendo para recusar a comida que está envenenada. E , além disso, manda-o reagir, ao que ele considera fruto de sua propria insanidade. Mas então ele resolve reagir e o inesperado acntece:

O judeu Cyryl , desnutrido e esquálido, conseque quebrar a mãe do alemão Elfy, que o matinha prisioneiro. De quem era aquela voz?

O autor consegue juntar essas duas primeiras partes do conto de uma forma surpreendente.

Na terceira parte  nos é apresentada Clara, num futuro distopico aqui mesmo, no Brasil.

“ Seu falecido avô dizia que Nova Brasília costumava ser o lar das pessoas mais importantes do país — para o bem ou para o mal. Porém, a noite eterna havia se instalado, destruindo qualquer centelha de esperança e transformando-a em terra morta”.  

As três partes se unem numa maldição eterna: na quarta parte do conto retomamos o olhar de Kayla sobre tudo e não posso dizer muita coisa dessa parte final sem estragar o suspense, mas é muito interessante como o autor construiu esse conto.  Uma frase eu posso afirmar, porém: Deve sempre haver um arauto. O conto merece aplausos. Kayla e o conto, como um todo, foi uma agradável surpresa para mim.

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Nas Cavernas da Loucura Por Mauricio R B Campos

Em 1912 Jean Louis foi designado para a infantaria .  O conto narra a história de um soldado durante a ocupação francesa do Marrocos. Sua função era cuidar também dos cavalos e a guerra que ele tanto idealizara não era exatamente aquilo que  pensou.

Eis que, em dado momento, acontece um fato surpreendente:

“Ergui as mãos e esperei pela morte que viria com certeza na sequência. Fechei os olhos e fiz uma oração. Quando estava no amém um clarão surgiu nas trevas. E então eu a vi. Ela vinha em um cavalo negro, segurando uma lamparina que iluminava o caminho à frente. Não usava véu e sua cabeleira sedosa e farta era escura como o manto da noite, sua pele era alva e seus olhos tinham a cor do ônix, brilhante como duas gemas. A parte de baixo dos olhos estava esfumada por alguma maquiagem. Ela possuía um medalhão igual àquele do homem que nos surpreendeu, e agora eu podia ver com clareza a estampa: era uma suástica.”

 

O último conto Onde as Sombras Não Têm Vez Por Gilson Luis da Cunha começa de forma tenebrosa, onde todo o horror de Guerra de Chuntlhu é posto à prova.

“O culto a Cthulhu, o demônio antigo, começara cinco milênios antes, como uma curiosidade, vindo de parte alguma. Seus profetas eram loucos, suicidas e canibais. Ninguém lhes deu muita importância na época. Eram poucos a princípio e, depois, cada vez mais numerosos. Os que não morreram em sacrifício a ele agora engrossavam as fileiras de seu exército.

Levaria ainda um dia inteiro até que a horda demoníaca ficasse ao alcance da vista. Os sóis gêmeos não se ergueram no dia seguinte. Apenas uma leve luminosidade lembrava ao povo da cidadela que mais um dia de infortúnio estava para começar. A comida havia acabado. E os corpos mutilados não paravam de cair dos céus. Era uma questão de tempo até o canibalismo.”

        O livro Guerra de Chuntlhu é uma imersão no mundo de Lovecraft e todos os contos mantém o leitor em constante estado de pavor.  As descrições são muito bem feitas, cenários e ações dos personagens tem maior prevalência que as descrições psicológicas, sendo que alguns personagens merecem maior destaque por serem mais trabalhados em seu perfil psicológico como Kayla, do primeiro Arauto, assim como Jean Louis- Nas cavernas da Loucura- e seu amadurecimento à custa da guerra e seus horrores inumanos.

        A capa do livro traz cthutlhu com seus tentáculos envolvendo uma caravela, uma kombi (carro brasileiro antigo) um submarino e um castelo, alguns dos elementos que compõe os contos e os está mantendo no fundo do mar. A ilustração de capa é excelente escolha e narra, brevemente, aquilo que o leitor encontrará no livro: um mergulho nas profundezas do horror de Cthunlhu. 

     Foi uma primeira leitura que fiz nesse estilo lovecraftiiano e me surpreendi positivamente com o estilo. Para apreciadores do Gênero horror garanto que será um livro memorável. 

 

 Michelle Louise Paranhos- autora e critica literária.