Quasi di Verdadi de Kelly Christi

Hoje vamos conhecer a resenha para o livro Quasi di Verdadi!

            O livro de contos Quasi di Verdadi de Kelly Crhisti envolve nove contos curtos, permeados com uma fina ironia que traz uma pitada de humor e leveza em assuntos do quotidiano.

           Os contos são, conforme ordem do índice:

Tatuada; Por 15’; O oculto da ciência; Espírito livre; Simples assim; Esquinas femininas e outros centavos; Licor de chocolate; Quasi di verdadi e o último, A flecha do golpe.

         O primeiro conto, Tatuada retrata aquela sensação de rever uma pessoa que um dia foi importante em nossas vidas e hoje está no limiar do conhecido.

         Por 15’ é um conto muito engraçado onde a Catarina está desesperada para resolver uma situação... Fisiológica, por assim dizer, e quando finalmente encontra um banheiro ela se depara com dizeres de todo o tipo:

“(...) Eu amo o Gustavo”; “Pri, sua vaca”; foi seguindo com corpo e olhos aquele mural, com frases colegiais, letras horríveis, outras nem tanto, alguns recados, trechos de músicas, piches, xingos, declarações, nada se contava naquela marginalidade de palavras... “De tudo ao meu amor serei atento”... Ah! Vini, até você por aqui?!”

Eu ri muito quando li esse trecho, porque de fato, tanto encontrar um poema de Vinícius de Moraes escrito na porta de um sanitário público quanto ouvir a personagem referir-se a ele por “Vini”, com tanta intimidade, foi inusitado e revelador. Sem mencionar a réplica de Catarina, ferina:

““ Nascemos com um programa inviável, que é atender aos nossos instintos, mas o mundo não permite. ”- Froide, assim, errado, fez questão de escrever. Aquela era sua marca. Essa era sua deixa.”

       “O oculto da Ciência “fala dos segredos ocultos, dos fetiches na vida de Daniel, um cientista.

        “Espírito Livre” fala de escolhas de Fernanda e sobre a responsabilidade assumida consigo e com outros.

        “Simples Assim” conta sobre Augusto e suas esquisitices e as esquisitices que não são estranhas a cada um de nós. Como diria Terêncio: “Sou humano: nada que é humano me é estranho”. Foi dessa frase que me lembrei ao ler esse conto.

      “Esquinas femininas e outros centavos” é um conto sobre união feminina ou quase feminina... E onde Catrina é a heroína que defende a personagem deste conto.

      “Licor de chocalate” é sobre o encontro e desencontro de Tomás e Cacau.

       “Quasi di verdadi”, conto que dá título à coletânea, fala de Sophia e as máscaras que se usa-usamos- ao longo da vida.

        “A flecha do golpe” onde Ele e Ela falam de suas semelhanças e diferenças e onde o amor nasce entre uma “coxinha” e um “petralha”... Ou seria ao contrário? Enfim. Um conto que fala de amor que supera diferenças.

       Embora sejam contos com começo, meio e fim e a cada narrativa retrate personagens com perfis bem determinados, os textos tem um quê de crônicas do cotidiano quando dialoga com a atualidade, o olhar sobre as minorias, a política, os costumes e valores atuais.

       Talvez esse olhar se deva ao fato de que a autora Kelly Crhisti ser  jornalista -além de ter se especializado em comunicação e editora de textos para mídia digital- e a agilidade, a leveza e a singularidade de sua escrita falem ao escritor, ao leitor comum, ao crítico e à sociedade em geral.

       O livro foi editado especialmente para a versão digital, o que não o impediu de ter uma revisão apurada além da diagramação cuidadosa.

       A ilustração de capa retrata três mulheres.

      Entretanto, ao olhar atentamente, percebemos que os cabelos cor-de- rosa emolduram um só rosto, a face central e a face esquerda de perfil virado à esquerda, mantém os olhos fechados numa expressão de deleite. A face à direita, por sua vez, mantem-se em igual posição e expressão.

      Há sutis diferenças entre elas, quase imperceptíveis, a tal ponto que deixa claro a ideia de que é a mesma pessoa retratada, o que condiz com o conto que intitulou o livro.

     A face central, que usa o batom rosa como os cabelos é a imagem externa. As mulheres de batom roxo, as imagens internas.

      O roxo que cada perfil usa é o mesmo tom intenso que colore as páginas do livro, com letras brancas, destacadas.

     Com subníveis de leitura, trazendo entretenimento e reflexão, Quasi di Verdadi de Kelly Crhisti surpreende em sua elegante simplicidade. Recomendo.

 

 

Resenha de Michelle Louise Paranhos- autora e critica Literária