Resenha de Nunca recebi Flores de Sandra Alves do Nacimento

         Nunca recebi flores de Sandra Alves do Nascimento é um chick –lit.

        A autora define seu livro assim, embora muitas pessoas não conheçam as várias denominações que os subgêneros literários tenham alcançado hoje.

       Por isso farei uma breve descrição do que vem a ser esse subgênero literário.

      Como identificar um chick lit?

     O subgênero  faz parte da literatura  centrada em protagonista feminina e/ou universo feminino. Voltado para o entretenimento, o subgênero tem como  objetivo principal a  diversão.

       Existem várias subdivisões internas  mas, no geral, o estilo chick  lit fala de assuntos tendo como protagonista o universo feminino sempre abordados com um toque de ironia .

    A crítica sempre está presente, ainda que de forma implicita.

    No caso de Nunca recebi Flores, o chick lit  está na categoria e“Bigger Girl Lit” :  irei explicar a razão disso mais adiante.

    Antes mesmo de revelar o nome de nossa heroína, conhecemos detalhes importantes de sua vida.

      Ela mora numa vila em Buraco Fundo; trabalha na doceria de sua mãe e tem uma única e “melhor amiga”  a Vanda, porque a vida real  ela não possui amigos.

 

Voltando ao assunto, eu tinha um ciclo de amizades com pessoas de cidades maiores pela internet. Fizera muita amizade virtual. Mais de três mil amigos no facebook. Às vezes, sentia que morava nas redes sociais e não na pequena vila Buraco Fundo.”

 

    Nesse ponto já percebemos a crítica social. 

     É interessante pontuar que toda a narrativa do livro possua uma trama a ser lida nas linhas e outra trama nas entrelinhas.

    A protagonista é tão “sem graça” que ela apresenta todo o ambiente e as suas relações externas antes mesmo de identificar o seu nome.

    Então, em 2015 aconteceu um fato para mudar a pacata vida dessa heróína ainda sem nome. O retorno de alguém de seu passado e que, obviamente, mexera muito com ela, que insistia em afirmar que não era verdade... Inclusive para si mesma.

 

     “Por que cargas d’água eu mudara a entonação de voz para falar de Raul? Queria permanecer neutra. Afinal, eu nunca gostei dele com segundas intenções. Fomos apenas amigos. Bons amigos. Nunca fez o meu tipo. Mas agora ele estava tão diferente... Eita! Vanda estava olhando para mim com uma cara esquisita, como se suspeitasse de algo”.

 

      Somente agora, no diálogo com Vanda, já na página 5 ( ou posição 88 do Kindle) conhecemos o apelido da heroína: Jaci.Bem depois descobriremos que o nome dela é, de fato, Jacinta Flores.

     O romance possui cinco partes, com linguagem coloquial sem ser vulgar, com a presença de gírias que caracterizam bem a personagem.

      A primeira parte começa com o ponto de vista de Jacinta.

      Na segunda parte do romance, os pontos de vista passam a ser alternados entre Jacinta e Pérola- sendo esta uma personagem que guarda algum mistério gerando, desde o inicio da trama, suspeitas em Jaci de que Pérola tenha uma estreita ligação com sua própria história, mas muita coisa foi poupada do conhecimento de Jacinta por seus pais, especialmente sua mãe.

     Jacinta Flores luta desesperadamente com o excesso de peso e a vida virtual a coloca no mundo, mas falta tudo para ela na vida real: afeto, amor, trabalho, autoestima.

      Jacinta Flores possui uma mágoa de Nunca ter recebido Flores, o que faz um interessante trocadilho com seu sobrenome.

     Receber flores para Jacinta é receber uma dose de amor próprio por ser quem é e encontrar seu lugar no mundo.

     Preferi não contar muito da trama, não porque ela não seja interessante- Ao contrário.

    O leitor só saberá quem de fato é Jacinta ao final do livro.

    É dificil falar sobre essa personagem sem revelar spoliers.

      Além disso, o texto subentendido nas entrelinhas fala mais da personagem que a própria trama.

     Agora que vocês sabem que Jacinta está acima do peso torna-se mais fácil explicar em maiores detalhes o significado de

 ” Bigger Girl Lit”.

     Traduzindo de forma literal,  Bigger Girl Lit” é um chick lit para garotas acima do peso.

     Um dos livros famosos que estão nesse gênero é o “Diário de Bridget Jones” que recebeu uma versão para o cinema atingindo muito sucesso e rendeu continuações tanto literárias quanto cinematográficas.

     Nunca recebi flores possui algumas inspirações nesse livro, como o fato das listas de Bridget e também de Jacinta, mas as similaridades ficam por ai.

  Ambos falam sim, das relações familiares, dos problemas com excesso de peso e de amor; Mas, enquanto Bridget está dividida entre dois amores, a pobre Jacinta sente-se sozinha e deseperada por ser amada- não apenas receber um amor sensual como receber afeto- principalmente de si mesma.

      É uma personagem complexa e bastante real. 

     Esse é o maior mérito desse livro... Talvez eu – e você-conheçamos uma Jacinta com outro nome.

      De fato, o nome de Jacinta era tão pouco importante porque Jacinta está um pouquinho em cada uma de nós, mulheres, quando ao buscarmos a independência nos deparamos com a contradição de nossos dias: a desvalorização do feminino com o acirramento da disputa de poder entre os sexos.

       É entretenimento? Sim, é!

      Porém, vale a pena ler e reler Nunca recebi Flores e assim poder extrair todas as nuances da trama imaginada por Sandra Alves do Nacimento.

Adquira seu e-book no link:

https://www.amazon.com.br/Nunca-recebi-flores-Sandra-Nascimento-ebook/dp/B06ZZ27WNV

Michelle Louise Paranhos- autora e crítica literária.