Primeiras Impressões de Ácido & Doce- A Rosa Fatal de Raphael Miguel
O livro Ácido & doce- A Rosa fatal de Raphael Miguel começa de uma forma inusitada.
A apresentação, que geralmente traz um pensamento inspirador ou uma explicação sobre a obra, aqui traz uma definição linguística dos conceitos de ácido e Doce.
O prólogo traz o doce inicial.
O protagonista Alejandro, filho de uma argentina e um português, está esperando por aquela que é alvo de seus sonhos- Livia.
Aparentemente, Lívia fará uma viagem e se ele não falar com ela naquele momento, talvez não tenha mais essa oportunidade. Lívia está em sua aula de francês numa renomada escola de idiomas e Alejandro vai até lá, munido de um bilhete e um botão de rosa.
O prólogo é narrado em flasback . Naquela época Alejandro ainda era um adolescente, com apenas 17 anos. O ponto de vista é em terceira pessoa com narrador onisciente; ou seja, ele sabe não só das situações como dos sentimentos dos personagens envolvidos.
No primeiro capítulo a narrativa passa a ser feita pelo próprio personagem, porém. Alejandro agora é homem feito, 25 anos. Formado na faculdade de administração em Curumim, trabalha numa corretora de seguros. Não sabemos de Lívia- mas tenho minhas suspeitas, que revelarei mais adiante.
O que é mais notável é como o personagem, nesses oito anos, se tornou enigmático. Deixou o perfil tímido e algo inseguro representado no prólogo e pareceu assumir uma postura egocêntrica e bastante manipuladora. Será que ele já possuía esses traços narcisistas ainda no começo da trama e sua insegurança não permitia que essa postura se manifestasse? Ou o doce que ele era foi irremediavelmente contaminado por algo que aconteceu a ele nesse períodode tempo?
O autor Raphael Miguel dá algumas pistas, ao dizer através de Nina- a mãe argentina- que ela adoraria ter tido a mocinha como nora, mas infelizmente algo dera errado:
“— Sabe Alejandro. Lamento muito que não tenha dado certo com aquela mocinha. Seria uma ótima nora e me daria lindos netinhos, mas você a deixou escapar por entre os dedos.”
No capítulo três, intitulado A Garota, uma mulher bem feita de corpo está na casa de um homem a quem julga se chamar Olívio.
Agora, uma vez mais, o ponto de vista da narrativa muda e conhecemos as situações sob o ponto de vista da mulher. Logo mais falaremos a respeito do nome dela.
Agora, após passarem a noite anterior juntos intimamente, por iniciativa dela, ainda que estivesse irremediavelmente bêbada- situação em que ele parece ter total responsabilidade, embriagando-a noite adentro- eles trocam um diálogo ao mesmo tempo revelador e enigmático, Ácido & Doce:
“O jovem direciona o olhar a mim. Consegui tirar sua atenção da leitura. Como se ele tivesse percebido o quanto feioso fica com os óculos, tira o aparelho e me olha com admiração. Sinto-me lisonjeada com o olhar e o saúdo:
— Bonjour. Leitura interessante?
— Bom dia — recebo um discreto erguer de sobrancelhas. Consigo perceber que ele está um tanto quanto envergonhado pela atuação da noite passada. Bobagem inerente aos tímidos. Logo seus olhos voltam ao livro.”
A mulher se chama Eveline e pede que ele a chame apenas de Eve. Por alguma razão que ainda não ficou clara nessa amostra, ele a convida para ficar no apartamento com ele pelo tempo que ela desejar.
Aqui eu faço um aparte:
É da natureza dos tímidos- sei disso por que sou uma ex- timida com direito a recaídas vez ou outra rs- serem naturalmente desconfiados com estranhos.
Juntando esse convite de Olivio, com o francês de Eveline e o ( aparente) trocadilho com o nome com o qual ela o chama- que falado pausadamente soaria como “O livio”- soando como uma forma masculina de referir-se a” A Lívia “- a quem nosso protagonista Alejandro nunca esquecera...
Creio que essa parte da amostra que recebi, com 49 páginas, mostrará a partir daqui a face extremamente ácida de Alejandro.
O personagem Alejandro me soa como um anti-herói, alguém que se tornou ruim por razões muito complexas, não chegando a ser um vilão de todo.
Para fazer Primeiras Impressões eu não costumo ler sinopses, então estou fazendo inferências apenas a partir do que li. Portanto não posso afirmar se isso acontece assim de fato, ou se é apenas uma impressão minha...seja como for, esta é a função de Primeiras Impressões,não é? Deixo para responder se a impressão está ou não certa numa resenha futura, combinado?
O jogo de Ácido & Doce é muito interessante e é algo assustador ler como alguém poderia ser tão doce e ácido ao mesmo tempo.
"Ácido & Doce- A rosa fatal" de Raphael Miguel é literatura adulta.
Muito embora as cenas de sexo sejam elegantemente descritas, sem se mostrarem apelativas ou de mau gosto e nessa amostra não tenha se revelado o uso de drogas ilícitas como está descrito no alerta ainda no inicio da amostra, não é exatamente isso que faz desse livro denso e indicado para adultos.
O vocabulário é rico, com uso de palavras adequadas e sem vulgaridade, tornando a leitura fluída ainda que recheada de tensão tanto erótica quanto subliminar.
A forma manipuladora de Alejandro e a forma com a qual fala sobre os pais dele, sem demonstrar empatia e revelando certo distanciamento afetivo, além de seu narcisismo apesar da timidez persistente, deixou no ar traços de alguém em quem não se possa confiar - talvez até mesmo apresentando certa psicopatia.
Na ilustração de capa vemos a representação (supostamente) de Eveline e seu cabelo louro platinado, com uma rosa na boca com o espinho assustadoramente perto demais de seus lábios.
Essa cena somada ao subtítulo “A Rosa fatal” e acrecentada com a epígrafe: “Até a mais linda rosa tem seus espinhos. Lembre-se disso para não ter o coração ferido” revela , nas entrelinhas, toda a doçura entremeada com agressividade que o leitor pode esperar deste livro.
Surpreendente.
Conheça mais sobre o autor:
BIOGRAFIA DO AUTOR
RAPHAEL MIGUEL, escritor com o nome de dois poderosos Anjos, nasceu na remota cidade de Botucatu, estado de São Paulo. Desde muito cedo, demonstrava genuíno interesse pelo lúdico e por ficções, sentindo-se confortável com seu lado criativo e abusando de sua imaginação.
Autor de diversos contos e poemas, participou de várias antologias sobre os mais diferentes temas. Apaixonado por cultura pop, escreveu crônicas sobre o tema para a extinta revista Varal do Brasil entre 2015 e 2016.
Premiado em concursos literários no ano de 2015, lançou seu primeiro livro solo em 2016, este intitulado “O Livro do Destino” (Chiado Editora), o qual foi muito bem recebido pela crítica e leitores, com destaque em diversos meios de comunicação e indicado aos amantes dos gêneros drama e fantasia.
Em 2017 prepara-se para lançar seu segundo livro solo, “Ácido & Doce: A Rosa Fatal”, pela inovadora Editora Xeque-Matte.
Este é apenas o começo de sua história...
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Michelle Louise Paranhos- autora e critica Literária.