Personagens:Funções e Desafios

Hoje iremos falar sobre Personagens.Quais são os tipos de personagens? 

Qual sua importância em nossa história? 

Personagens são os seres atuantes numa história e geralmente são pessoas- mas podem ser objetos, situações e até mesmo animais, desde que possuam atitudes personificadas, isto é, tenham atitudes semelhantes ao comportamento humanos-pensamentos, razões, fala e emoções dentre outras características.

Existência

Parece estranho falar em existência ou não do personagem, mas de fato essa é uma das características fundamentais para compreender a importância de um personagem dentro de uma história;

  • Real ou histórica: são personagens que realmente existem ou existiram. São comuns em textos jornalísticos ou obras históricas. (ex: Biografia de Auguste Rodin)
  • Fictícias ou ficcionais: personagens que só existem na imaginação do autor, mesmo que inspiradas em pessoas reais. (ex: Capitu, no livro Dom Casmurro de Machado de Assis).
  • Real- ficcional: personagens reais, mas com personalidade ficcional. (ex: Abraham Lincoln no filme “Abraham Lincoln: caçador de vampiros”)
  • Ficcionais- ficcionais: personagens ficcionais dentro de obras de ficção.
  • Ficcionais- reais: personagens que no início eram ficcionais, mas que passaram a ser considerados reais porque foram postos em situações reais de convívio real sem que as pessoas soubessem disso, como o personagem Borat. Personagens comuns em “pegadinhas” de programas de TV.

Tipos de personagens

  • Protagonista: é o personagem principal da trama e é sobre ele que a as atenções do leitor se voltam para descobrir como esse personagem resolverá os conflitos e tensões comuns durante a narrativa. Geralmente é um herói.
  • Co-protagonista: é aquele em segundo lugar em importância, e costuma ser um aliado do herói.
  • Antagonista: é o personagem que rivaliza com o herói, e em muitos casos pode ser o vilão da história, mas nem sempre. O antagonista em algumas histórias contemporâneas principalmente, pode se revelar o próprio protagonista, e nesses casos, o personagem é um herói sem honra,que não mede esforços para conseguir o que deseja,podendo ser antiético, desonesto, e quase sempre com um humor sarcástico, mas que tem atitudes nobres e faz o bem, mesmo que pareça ser totalmente por acaso!Não chega a ser mau, contudo, ele age de forma bem diferente de como esperaríamos que um vilão tradicional agisse.Os antagonistas costumam despertar grande simpatia dos leitores, sendo incrivelmente carismáticos. Ex: Gregory House (personagem interpretado pelo ator Hugh Laurie), da série de TV “House, M.D”.
  • Vilão: personagem oposto do herói, os vilões possuem características fáceis de identificar como intrinsecamente más: é ardiloso, mau-caráter, egoísta e rivaliza com o herói. Quando extremamente maus e toda a trama é um embate entre o herói e o vilão-onde este procura arquitetar formas de destruir o herói- então o vilão configura-se como Arqui-inimigo. Ex: coringa, arqui-inimigo do Batman.Atualmente, os vilões estão desaparecendo da narrativa, e em seu lugar estão surgindo antagonistas, assim como os heróis clássicos estão apresentando atitudes pouco convencionais para um protagonista. Exemplo atual seria a personagem Malévola- outrora vilã do clássico conto infantil que virou o longa-metragem de animação Bela Adormecida. Na versão atual, porém, a Malévola -interpretada pela Atriz Angelina Jolie- é suavizada, ganhando novos contornos, uma personalidade ambígua entre boa e má- maldade justificada em parte pela traição cometida pelo amor de um humano-e é mesmo capaz de demonstrar amor e carinho pela princesa Aurora.

Foto: Malévola e Aurora, ainda criança. Filme: Malévola. Imagem de divulgação. Disney/2014

 

  • Coadjuvante: personagem que exerce outra função dentro da história, Podendo ou não ter relação com a trama principal.
  • Figurante: personagem com uma função de compor o cenário. São muito comuns histórias que não possuem um único figurante, e por isso soam como inverídicas, afinal costumamos nos envolver com pessoas comumente em nossa vida, como o atendente da lanchonete, ou a caixa do supermercado. Um ou outro figurante e até mesmo um ou outro diálogo entre o protagonista e um figurante pode tornar a história ainda mais interessante.
  • Oponente: personagem que auxilia o vilão trabalha para ele geralmente. Mas é um auxiliar e mesmo que execute pequenas maldades, será sempre a mando do vilão.

Desafios:

 Construindo Arco Dramático do personagem.

Quanto antes se estabelecer quem são os personagens e seus objetivos a serem alcançados mais fácil será a criação dos conflitos para o personagem e que ajudarão a compor o arco dramático da história.

Arco Dramático

Antes de entrar propriamento no significado de arco dramático, precisamos definir sob que Ponto de Vista a história é narrada.

 O POV (Ponto de Vista) é entendido a partir de quem nos mostra a história, suas emoções, opiniões e pensamentos.

O leitor vivenciará a história através da narrativa desse personagem, geralmente o personagem principal.

Arco dramático constitui-se basicamente nas profundas alterações emocionais que ocorrerão com o personagem ao longo da trama enquanto ele procura atingir seu objetivo.

Cada cena pode ser expressa por uma emoção e é essa emoção que eu, como autor, desejo que o meu leitor entenda ao final de cada cena, parágrafo ou capítulo.

O personagem, ao se deparar com um obstáculo, responderá com duas reações em sequência:

  • Cena de Ação 

Uma ação específica com o objetivo de superar o obstáculo x.Após a sua reação inicial surge uma reflexão daquilo que não só originou o conflito como nas possíveis consequências das ações e resultados.

  • Sequela

 Reflexão para extrair alguma informação do conflito superado.Essa reflexão provoca uma emoção no personagem; é um momento de parada na sequência de ações para criar uma cena introspectiva e emocional.Essa cena chama-se Sequela.

Através das sequelas os personagens criam uma bagagem emocional, um repertório de sentimentos e aprendizados que irão interferir substancialmente na forma com que irão analisar as situações seguintes.

Essa memória emocional estabelecida através cria um Filtro de Cena- uma forma única com que o personagem X reagirá às determinadas circunstâncias de sua vida, criando assim um  Perfil Psicológico  para o personagem.

Para finalizar gostaria de deixar uma opinião sobre um quase clichê muito utilizado em técnicas de narrativa por muitos autores e é nosso assunto npo nosso assunto no próximo tópico

Deve-se mostrar e não contar a história.

Existe um paradoxo intríseco na frase acima: Uma história narrada é basicamente isso: através de palavras, e não de cenas visuais, explicar ao leitor o que aconteceu.

Esse “mostrar”, para certos autores, é entendido de forma literal, significando abusar de formas descritivas exploradas ao máximo, importadas de seriados de TV e de filmes, que se utilizam da linguagem audiovisual própria criando outra forma de apresentar a linguagem-o Roteiro- com intuito de situar o leitor sobre aspecto físico dos personagens e a ação propriamente dita executada por eles. No Roteiro, toda a narrativa transcorre numa sequência infindável de cenas de ação sem nenhuma cena de sequela que crie um filtro para o personagem, trazendo mais veracidade à narrativa. As emoções estão em comentários especificados nos comentários, entre parênteses, assim como expressões faciais e ambientação.

O roteiro utilizado em cinema, TV e teatro, geralmente deixa a cargo do espectador a percepção do conflito que o ator expressa através da linguagem corporal.

Porém, o leitor não tem como prever a intenção através de um olhar, por exemplo, a não ser que seja claramente descrito pelo autor.

Não posso argumentar que uma frase irônica seja compreendida de fato, se eu não acrescentar “fulano de tal disse (...) acompanhado de um sorriso sarcástico”.

 Na novela da TV ou no cinema, o ator pode e fará esse sorriso segundo a orientação do diretor, mas na literatura o autor precisa deixar esse sorriso claro para o leitor através de observações do narrador ou explicações do personagem e CONTAR o motivo que originou o sorriso. Apenas mencionar que o sorriso aconteceu sem interpretar a emoção que o acompanha, deixará o leitor perdido na intenção pretendida pelo autor.

Incoerência na Construção de personagens

Observe esse exemplo de incoerência:

  O personagem X ,que sofreu na infância um naufrágio mencionado ou descrito em detalhes no capítulo 2,é visto no capítulo 20 passeando de lancha com a namorada.

Por mais bonito que a cena parecesse,traria uma incoerência ao texto.Se tal cena fosse descrita, o mínimo esperado seria um personagem ansioso, estressado, frustrado até - dependendo da situação  que o colocou ali, possivelmente contra a sua vontade. 

Todas as ações dele a partir do capítulo 2, seriam contaminadas pela emoção que ele experimentou , revivendo o passado naquele momento específico. 

Serão esperadas todas essas respostas emocionais também pelo leitor que, ao compartilhar a emoção com esse personagem complexo - afinal todo mundo já se viu obrigado a estar onde não queria-cria um elo emocional entre personagem/leitor.

 A inexistência das emoções, por outro lado, transforma o personagem num personagem plano- sem profundidade psicológica e trazendo inúmeras “pontas soltas” para a narrativa.

 O significado de pontas soltas é numa explicação de fácil entendimento, dizer que algo não foi devidamente explicado na trama ou não faz sentido no enredo final; não está “amarrado”.

Por outro lado, ainda sobre a questão entre mostrar e contar: o autor deve mostrar tudo aquilo que acontece externa e internamente com o personagem e não deixar para o leitor a responsabilidade de costurar as pontas soltas na história a fim de manter a coerência da mesma.

Sempre digo que eu, que sou autora,quando estou cumprindo meu papel de leitora de uma obra literária,quero ser capaz de enxergar, nas entrelinhas, a voz do autor e seu estilo.

Se eu tiver que costurar algo, criando situações para preencher as lacunas deixadas pelo autor, na verdade, estou construindo a história a partir do meu ponto de vista... E a história é minha, e não do autor!

A intenção é construir um livro interativo, trazendo essa experiência para o leitor? Então, se deve informar ao leitor sobre isso, ainda na sinopse! Caso contrário, o mundo fictício criado pelo autor deve chegar por inteiro até o leitor, mostrado em cada detalhe deste inexplorado universo.

Então,o que achou desse artigo?

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